Compensando a falta de posts em 2012, confiram abaixo um gigantesco para
começar 2013:
Empreendi-me um desafio
nada simples, porém muito compensador: elaborar a minha lista ordenada dos
melhores álbuns do power violence das décadas de 80 e 90, que, como diria um
velho nostálgico recordando os tempos de outrora, foi a era de ouro do power
violence. A lista e sua ordenação não precisam ser entendidas como algo definitivo,
até porque cada vez que a revisava, a ordem de algum álbum era alterada. Mas o
fato é que todos são clássicos indispensáveis, tanto para o gênero quanto para
o hardcore em geral, e é quase uma obrigação conhecê-los.
Para quem ainda não está
habituado com o power violence e as ótimas sensações que ele pode proporcionar,
a lista pode servir como um guia para a destruição da sua saúde auditiva.
Em breve, quem sabe, uma
nova lista com as bandas mais recentes. Espero que apreciem!
#10) Lack Of Interest - Trapped Inside 12" LP [Slap A Ham, 1999]
O LACK OF INTEREST é como
o filhote latino, veloz e agressivo do INFEST. A banda nasceu em 1990 e, após
alguns splits (com SLAVE STATE, SPAZZ e STAPLED SHUT), teve seu primeiro full
length apenas em 1999, o LP TRAPPED INSIDE lançado pela Slap a Ham, que continuava
nos alegrando com o que havia de melhor no gênero. Neste álbum a banda contava com Rick
nos vocais, Mike no baixo, Isack na guitarra e Bob na bateria. O que mais chama
a atenção são os vocais monstruosos de Rick que mais parecem um ameaçador cão
raivoso, mas além disto, havia uma banda que tocava músicas simples, mas bem
feitas e muito rápidas, sabendo sutil e marotamente cadenciá-las e voltar em
seguida para a sua habitual e costumeira violência esplêndida. Outro destaque é
Bob, um dos melhores bateristas do estilo que, se houvesse uma convocação
californiana do power violence, seria titular da equipe. Na verdade ele faz
mesmo parte desta equipe dos sonhos (entenda como LOW THREAT PROFILE). Alguns
preferem o álbum seguinte do LACK OF INTEREST, o NEVER BACK DOWN com Mike e
seus vocais mais líricos e menos ferozes, com uma sonoridade mais quebrada,
soando mais thrashcore. No momento eu prefiro este, que é mais rápido e
simples, e também pelos vocais peculiares de Rick.
São 24 tirambaços em pouco
mais de 14 minutos, que poderiam até mesmo caber em um EP. Letras sobre
autoridade (Behind Bars); suicídio (Suicidal); ódio (You Hate You, My Life,
What's Up); nações ricas que exploram as pobres (What's Wrong); mentiras (Force
Fed); lavagem cerebral (Brainwashed); inconformismo (No Solution). Destaque
para as músicas My Life, What's Wrong, Force Fed, enfim, difícil definir os
melhores momentos do álbum, que é bom do início ao fim.
A banda tinha uma
constante troca de vocalistas, principalmente entre Rick e Mike. Trevor
Fairbanks (SCALPLOCK, PETER MANGALORE) também chegou a ter uma passagem nos vocais. O LACK
OF INTEREST, hoje com dois vocalistas (Rick e Mike) e o onipresente Chris Dodge
no baixo, segue produzindo hardcore de alto nível.
Duração: 14:37
Tracklist: Behind Bars //
Suicidal // What’s Wrong // You Hate You // Homeless // Alone Once Again //
Lost It // Looking Blindly // Force Fed // No Solution // My Life // Wasted
Effort // One Trust // Brainwashed // Impeached // Tough Guy // Empty Pockets
// Social Inequality // Stop Hate Unite // What’s Up // Escape Reality // I
Know // Nothing // Disciplined
#9) Spazz - La Revancha
12" LP [Sound Pollution, 1997]
O SPAZZ foi a banda que revolucionou o power violence. Enquanto as
primeiras bandas tinham letras raivosas e sérias, o SPAZZ, da chamada segunda
onda do power violence, mesclou a sonoridade agressiva do CROSSED OUT e MAN IS
THE BASTARD com letras irônicas e divertidas, além de incluir, na medida certa,
elementos do Hip Hop, skate, filmes B e de kung fu, e vez ou outra, colocando
um banjo aqui ou ali e, tudo isto, formando uma sonoridade bastante
interessante, sem perder a brutalidade e sem deixar de fazer críticas. A banda
foi muito ativa, lançando diversos materiais, mas sempre mantendo o bom nível,
apesar de splits com bandas de caráter duvidoso (25 Ta Life).
Falando especificamente
do LA REVANCHA, temos aqui o SPAZZ na sua essência: vinhetas de filmes, senso
de humor de sobra, muitas quebras, samplers de hip hop e um som violento e ao
mesmo tempo divertido e contagiante. As letras falam de luta livre
(como a própria capa do álbum já denuncia); kung fu; críticas aos
"libertários" preocupados com suas coleções de discos (4 Times a
Day); a moda do power violence e as novas bandas (Let's Kill Fuckin'
Everybody); a tendência de relacionar rock com drogas (Musica de la Roca); aos
hippies (Raging Hate, Fear, and Flower Power Violence), entre outras. O disco
foi gravado em 1995 e só foi lançado em 1997 pela Sound Pollution, e já naquela
época criticavam os emos, como na letra da música Backpack Bonfire, mesmo sem
saber as proporções que esta epidemia tomaria futuramente. São 26 músicas no
total, abrindo com um dos maiores clássicos (WWF Rematch At The Cow Place) e
fechando com um cover do Cryptic Slaughter (M.A.D.) e ainda conta com uma
participação especial do rapper Kool Keith, além de tocadores de banjo,
harmonica e beatbox do próprio Dan, que também assinava como DJ Eons, ou Kung
Fu Dan. Entre seus três full lenghts, vejo este como o melhor, seguido do DWARF
JESTER RISING, o primeiro da banda, que considero melhores e mais agressivos que
o tão mencionado CRUSH KILL DESTROY. Também destacaria, dentre a sua
discografia, os splits com o C.F.D.L., FLOOR e CHARLES BRONSON.
Por mim até
colocaria este disco em uma posição mais à frente, mas os outros talvez tenham
mais importância. Hoje o Max Ward segue com o seu selo 625 Thrashcore, Chris
Dodge toca no DESPISE YOU, no já citado LACK OF INTEREST, entre outros e Dan
toca no FUNERAL SHOCK e deve estar envolvido nos seus projetos de DJ ou rapper.
Inclusive, uma curiosidade sobre este lado hip hop do Dan, é que mesmo quando
tocava no SPAZZ ele ouvia muito mais este estilo do que propriamente hardcore,
mesmo assim sem prejudicar a sonoridade spazziana. Tanto era a influência do
hip hop para o SPAZZ (Max também gostava), que o nome do álbum CRUSH KILL
DESTROY foi uma homenagem ao ULTRAMAGNETC MC's, que tinha uma música de mesmo
nome.
Mais sobre a participação do Kool Keith pode ser lido pelas palavras de
Dan, no seu blog.
Este LP foi relançado em 2011 pela 625 Thrashcore com uma nova arte para
a capa.
Duração: 23:34
Tracklist: WWF Rematch At The Cow Palace // 4 Times A Day // Desperate Throat Lock // Bobby’s Jackpot Jamboree // Dewey Decimal Stichcore // Swampfoot // C.I.A. // Camp Chestnut // No Shadow Kick // The One With The Goat’s Got An Orgy Up The Sleeve // Bitter // Let’s Kill Fuckin’ Everybody // Sweet Home Alabama // Rasins Hate, Fear And Flower Power Violence // Climate Best // Urinal Cake // Drunkard Genaii // Sesos // Daljeet’s Detonation // Tumbuckle Treachery // Backpack Bonfire // Don’t Quit Your Day Job // Musica De La Roca // Coil Of The Serpent Unwinds // Golden Ess Stance // M.A.D.
#8) Crossed Out & Dropdead Split 5" EP [Crust Records, Posthumous
Records e Selfless Records, 1993]
Mesmo que eu não
considere o DROPDEAD como uma banda de power violence, sou um grande admirador
deste conjunto. Tanto, que neste split, o lado do DROPDEAD, com músicas de
extrema velocidade, violência, e até uma boa dose “powerviolenciana” e crust, é
tão bom quanto o do CROSSED OUT. As seis músicas trazem letras relacionadas à opressão,
guerras, direitos animais e atrocidades nazistas. A banda contava no momento
com o line-up: Ben (guitarra), Bob (vocais), Brian (bateria) e Lee (baixo). Já
o CROSSED OUT, que inclusive foi influenciado pelo DROPDEAD, soa como no split
com o MAN IS THE BASTARD: brutal. Ambos splits foram gravados no estúdio Headquarters, este em 15 de fevereiro de 1992.
Neste EP é
onde está presente a famosa imagem relacionada à banda, onde aparece um homem
apontando uma arma para a cabeça de outro.
A imagem, na verdade, foi retirada
do clássico filme italiano Beyond de Lucio Fulci, onde a vítima é um
morto-vivo. Deixando os detalhes cinematográficos de lado, as letras falam de
críticas à permanente busca por dinheiro, status e sucesso (Selfserve), à
humanidade (Suffocate) e uma possível crítica aos nazistas ou aqueles que se
acham puros (Supremacy). O EP foi lançado em uma colaboração de diversos selos:
Crust Records, Posthumous Records e Selfless Records. Este split representa a
união de duas importantes, indispensáveis e influentes bandas para o hardcore,
o único lado negativo é que o pequeno disco de 5” não chega nem aos 5 minutos
de duração.
Duração: 04:52
Tracklist: Crossed Out:
Supremacy // Selfserve // Neglect // Suffocate // Dropdead: New World Slaughter
// Sheep // Belly Full Of Lies // Requiem // Bosnia // Nazi Atrocities
#7) No Comment - Common
Senseless 7" EP [Snare Dance, 1989]
O NO COMMENT surgiu em 1987 e sempre contou com Andy (vocal), Vince
(guitarra), Brent (baixo) e Raul (bateria) que queriam aproveitar o tempo livre
para tocar e mostrar que o hardcore ainda estava vivo. Ainda neste ano (1987),
lançaram a primeira demo tape pela Moby Disc Records, que mais tarde foi
relançada em 7” pela Noise Patch, em 1994. O EP COMMON SENSELESS, lançado
pela Snare Dance em 1989, mesmo não sendo tão bom quanto o sucessor DOWNSIDED,
assemelha-se a este e não deixa de ser um excelente EP. Este álbum continha duas músicas já gravadas na demo (Community Slugs,
World Of Difference), mas desta vez com uma boa gravação e a banda soando ainda
mais rápida.
Além das críticas à sociedade e às indústrias, eles seguem denunciando
a exploração dos animais em "In The Name Of Stupidity" onde falam
sobre vivisseção e em "Farmer Hitler John", que compara os matadouros
aos campos de concentração. Considero a ótima e bem executada “A Mother’s
Crime”, um dos mais altos pontos do EP.
Mais tarde, em 1999, foi lançada pela
Deep Six uma coletânea com a discografia da banda, porém, deixando de incluir a
música “Special Circumstances”, contida neste EP. Até então, de acordo com o
encarte do álbum, Vince tocava guitarra e Brent baixo, e no DOWNSIDED trocaram
os instrumentos. Brent também era o responsável pela composição da maioria das
músicas. Em comparação com o DOWNSIDED, tem músicas um pouco mais demoradas,
fazendo com que não tenha tal intensidade sonora, e qualidade inferior de
gravação, mas ainda assim pode ser considerado um dos melhores EPs do power
violence, e é datado de uma época em que tal termo estava apenas surgindo e
somente mais tarde o NO COMMENT foi real e merecidamente reconhecido como parte
do power violence.
Duração: 10:42
Tracklist: For Tomorro’s Sake // Saying Uncle // A Mother’s Crime // Community
Slugs // In The Name Of Stupidity // Farmer Hitler John // World Of Difference
// Special Circumstances // Open Face Down
Discogs
#6) Crossed Out & Man
Is The Bastard Split 7" EP [Slap A Ham, 1992]
Talvez uma das maiores
responsáveis pelo que o CROSSED OUT representou, foram as gravações cruas e sem
grande qualidade, principalmente nos splits com o MAN IS THE BASTARD e o DROPDEAD,
que, por sinal, podem ser consideradas as músicas mais brutas e agressivas da
banda. Neste split, o MAN IS THE BASTARD abre com uma faixa de seus ruídos,
como de costume, que não me agrada muito. Em seguida vêm quatro curtas e boas
músicas, com destaque para "Instantly Bent" e "Screwdriver In
The Urethra Of Thomas Lens" e fecha com a lenta e longa "Walkers On
The Street" que acaba esquecida quando se vira o EP e começam as seis
curtas e violentas músicas do CROSSED OUT, onde nenhuma passa dos 40 segundos,
e já fazem valer o disco.
Se existe uma definição em termos musicais para o power
violence, a música Lowlife do CROSSED OUT pode ser considerado um bom exemplo, que em seus apenas 32 segundos, varia constantemente entre a sonoridade ultra
rápida e violenta e a mais arrastada. Ainda há a uma música no lado do CROSSED
OUT que gerou o nome de outra banda: Scapegoat, esta que faz um som totalmente
inspirado no CROSSED OUT, o mesmo pode ser dito de Practiced Hatred, música que
batizou outra banda. O MAN IS THE BASTARD ainda veio a lançar muitos outros
álbuns, mas acabou partindo para uma sonoridade mais experimental e noise, com
ruídos eletrônicos, que continuou após o fim da banda com o BASTARD NOISE. Há
quem goste, mas particularmente prefiro a fase mais rápida e agressiva.
Duração: 10:36
Tracklist: Man Is The
Bastard: S.O.I.G. // Work To Death // Instantly Bent // Screwdriver In The
Urethra Of Thomas Lenz // Snake Apartament // Walkers On The Street // Crossed
Out: Practiced Hatred // Pure Delusion // Society // Lowlife // Scapegoat //
Vacuum
#5) Infest - No Man's
Slave 12" LP [Deep Six, Draw Blank, 2002*]
Acredito que as músicas deste álbum foram as
últimas gravações do INFEST, realizadas no verão de 1995, pouco antes do fim da
banda no ano seguinte. Na verdade, em 1995, foi gravada apenas a parte
instrumental das músicas, com Matt Domino na guitarra e baixo e R.D. Davies do VISUAL
DISCRIMINATION na bateria. O vocal de Joe Denunzio só foi gravado em 2000,
assim como os backing vocals, que incluíam Andy Beattie do NO COMMENT e MAN IS
THE BASTARD, mesmo assim o resultado final do álbum póstumo ficou excelente. O NO
MAN’S SLAVE foi finalmente lançado em 2002 pela Deep Six e Draw Blank Records
(o selo de Matt Domino), fechando com chave de ouro sua discografia com este
álbum bruto e impecável, que não perde em nada para os anteriores e pode ser
considerado como um clássico do gênero.
São 19 faixas, ainda mais rápidas e
agressivas, com a guitarra mais suja, encerrando de forma instrumental com a
longa "My World...My Way", ultrapassando mais de 5 minutos e trazendo
um certo clima de tristeza, com esta que é a última música do último disco da
banda. Mesmo com esta longa faixa final, o disco tem apenas 16 minutos em mais
um dos grandes álbuns do hardcore, que merece, a meu ver, estar entre os cinco
melhores dentre o power violence. Algumas destas músicas já eram conhecidas, pois
haviam aparecido no LP LIVE KXLU, originado de uma gravação ao vivo nesta rádio.
Agora, parece que a banda deve retornar para alguns shows. Espero
que isto realmente se confirme e, quem sabe, possam lançar ainda algo novo
futuramente.
Duração: 16:03
Tracklist: Cold Inside //
Feeling Mean // Sick Machine // Upright Mass // In His Name // Behind This
Tongue // What’s Your Claim // True Violence // Sickman // Punchline // Contact
// Effort Fails Down // You’re A Star // Freeze Dried // Rabid Pigs // Lying To
Myself // Nazi Killer // My World… MY Way
#4) Neanderthal -
Fighting Music 7" EP [Slap A Ham, 1990]
Este é o primeiro EP da
banda que não somente definiu o power violence como termo, mas como som. Matt
Domino do INFEST e Eric Wood do PISSED HAPPY CHILDREN uniram suas forças,
levando com eles as características de suas bandas, ou seja, a velocidade e
agressividade do INFEST com as partes cadenciadas do PISSED HAPPY CHILDREN e
aquele baixo característico de Eric Wood. Estas duas bandas já haviam gravado
um split ao vivo, que foi o primeiro título da Slap A Ham, e que pode ter significado
a parceria entre estes dois importantes nomes. O termo “power violence” foi
criado por Matt Domino em um dos ensaios do NEANDERTHAL, no final de 1989, com a ideia de criar um
novo rótulo para diferenciá-los das outras bandas, algo como para significar
“nós somos os mais rápidos e brutais!”. O termo ficou mais conhecido por ser
citado na música Hispanic Small Man Power (H.S.M.P.) do MAN IS THE BASTARD, e assim, "power violence" acabou
sendo utilizado para designar algumas bandas de hardcore extremo daquela região
da California, que costumavam tocar juntas no famoso 924 Gilman Street, e tinham, até certo ponto, um som peculiar. O EP FIGHTING MUSIC foi o
quarto lançamento da até então novata Slap A Ham. O primeiro lado foi gravado
em 89 e o segundo no ano seguinte, e a bateria do disco ficou a cargo de Joel
Connen, que mais tarde formaria também com Eric Wood, o MAN IS THE BASTARD,
levando com eles boa parte da sonoridade do NEANDERTHAL. E ainda tinha a
participação de Joe Denunzio (Infest) no vocal de Brain Tourniquet, um dos
melhores momentos do álbum.
O EP tem início com Crawl, que fala como algumas
pessoas atualmente se submetem a todas vontades dos chefes e fazem de tudo para
puxar o saco deles, também letras sobre sofrimento (Brain Tourniquet) e também
sobre assassinos cruéis, como em Mind Eraser que fala sobre a mente deste
psicopatas e Kill, Eat And Breed, que trata de uma família de canibais que
aterrorizou a Escócia. O NEANDERTHAL, mesmo que não seja tão lembrado como o CROSSED
OUT, INFEST e MAN IS THE BASTARD, é um dos principais nomes do power violence e
este é um EP histórico e indispensável. A banda ainda teve em 1991 um split com o
BLATANT YOBS com duas músicas deste EP e um split como RORSCHACH, além do EP
KILL, EAT AND BREED com 3 músicas contidas no FIGHTING MUSIC e outra inédita,
somando apenas 8 músicas no total de sua curta existência.
Duração: 08:14
Tracklist: Crawl //
Neuter // Brain Tourniquet // Mind Eraser // Kill, Eat And Breed
#3) Crossed Out - Self
Titled 7" EP [Slap A Ham, 1991]
Eu diria que o que o CROSSED OUT fez foi pegar as
bases com rápidas mudanças de acordes, como o INFEST fazia e acelerá-las, mas
como diferencial, eles usavam mais das bases cadenciadas, sendo capazes de numa
mesma música, ir de uma passagem extremamente acelerada para uma mais arrastada
em instantes, neste ponto lembrando um pouco algumas músicas do NEANDERTHAL, e
justamente ao lado desta banda, foi uma das principais bandas a definir a
sonoridade do power violence. A banda nasceu em 1990 em Encinitas, na
Califórnia, e durou apenas até 1993, mas foi o suficiente para, com sua curta
discografia, influenciar uma infinidade de bandas posteriormente. A formação da
banda sempre contou com Tad Miller (bateria), Scot Golia (guitarra), Rich Hart
(baixo) e Dallas Van Kempen (vocal).
Ainda em 1991, depois da demo, o CROSSED OUT gravou as 7 músicas deste
EP, que foi lançado pela Slap A Ham, mais agressivas e rápidas que a demo. A
qualidade da gravação é um pouco melhor que nos split com o DROPDEAD e o MAN IS
THE BASTARD e é, sem dúvidas, um dos grandes clássicos do power violence. As
músicas não soam tão brutas como nos splits futuros, mas representou um
importante registro para o power violence, e continua influenciar novas bandas.
Posso dizer que é a banda cujo som melhor representou o power violence, e junto
com o INFEST, continua a ser uma das principais influências atualmente no
gênero. Letras sempre curtas carregadas de ódio, frieza, desilusão e altas
doses de misantropia.
A imagem da capa trata-se de um grupo radical islâmico,
que havia tomado o poder, executando alguns curdos que apoiavam o grupo que foi
derrubado. Em outra imagem, dentro do encarte, aparece a foto de um assassino
em série, pois Dallas tinha bastante interesse a respeito deste tema.
De acordo
com as informações disponíveis na internet, a banda não fazia muitos shows,
somando apenas 16 no total. Um desses shows foi realizado na primeira edição do
festival "Fiesta Grande" em 2 de janeiro de 1993, tocando com NO
COMMENT, ASSÜCK, MAN IS THE BASTARD, CAPITALIST
CASUALTIES e PLUTOCRACY. Em outro show, em 21 de agosto de 1993 no Che Cafe, Eric Wood (PISSED
HAPPY CHILDREN, NEANDERTHAL e MAN IS THE BASTARD) foi quem tocou o baixo, ele
substitui Rich Hart até o fim da banda, no final de 1993. Uma coletânea reunindo toda discografia do CROSSED OUT, incluindo
coletâneas foi lançado em 2000 pela Slap a Ham e tinha como imagem de capa uma
foto do assassino Albert Fish em seu julgamento. Por onde será que andam
os integrantes desta banda?
Duração: 07:55
Tracklist: Internat // He-Man // Locked In // Fraud // Crown Of Thorns // Force Of Habbit // Crutch
Discogs
#2) Infest - Slave
12" LP [Off The Disk Records, 1988]
Temos aqui o pai de
todos. A banda que, sem a qual, o power violence nunca teria nascido. O LP SLAVE,
lançado pelo selo suíço Off The Disk Records é o grande clássico da banda,
recheado de músicas épicas como “Mindless”, “Where's The Unity?”, “Sick-O”, “Plastic”.
Hardcore cru e rápido, ainda sem muitas das partes lentas amplamente adotadas
anos depois, mas com constantes mudanças de tempo e fúria de sobra, nos vocais
bem típicos para o estilo, de Joe Denunzio. Clássico fundamental que
influenciaria qualquer banda que veio a se dizer power violence. 18 músicas em 20
minutos, terminando com a lenta e instrumental Fetch The Pliers. 10 delas foram
previamente lançadas no EP 7” “Infest”, ou também conhecido como “Machismo”,
usando a mesma gravação. Como de costume, o INFEST trata de temas
sociopolíticos, machismo, guerras, escravidão, o uso de drogas, entre outras
desgraças que só nós humanos podemos proporcionar para o mundo e até mesmo
críticas a cena e sua falta de união na mais que clássica “Where’s The Unity?”.
Este LP teve uma prensagem limitada e hoje é item de colecionadores, por isso
apareceram várias versões piratas do mesmo. Naquele momento a banda era formada
por Joe Denunzio nos vocais, Matt Domino na guitarra, Dave Ring no baixo e
Chris Clift na bateria. Destaques para os enfurecidos vocais de Denunzio e para
a guitarra rápida e suja, embora sem tanta distorção, de Matt, que facilmente é
identificada, inclusive em sua passagem pelo LOW THREAT PROFILE. A banda, que
existiu de 1986 a 1996, durou relativamente bastante se comparada às outras e
teve em sua discografia, além deste LP, 2 7” EPs, o ótimo LP NO MAN’S SLAVE, anteriormente
citado, o split 7” com o PISSED HAPPY CHILDREN e uma infinidade de coletâneas e
versões não oficiais. Banda formadora de caráter e que influenciou todas as
outras dentro do power violence e muitas de hardcore rápido.
Duração: 19:58
Tracklist: Break The
Chain // Pickled // Sick-O // Plastic // Mindless // Which Side // V.Y.O. // Where’s
The Unity // Screwed // Machismo // The Game // Sick Of Talk // Iran Scam // Life’s
Halt // Slave // Head First // Sick And Tired // Fetch The Pliers
#1) No Comment -
Downsided 7" EP [Slap A Ham, 1992]
Ao iniciar a elaboração
da lista, me deparei com o problema de ordená-la, tanto que diversas vezes a
alterei, porém, algo era certo e irrefutável: DOWNSIDED é o número 1! Também
não acharia exagero dizer que é o melhor álbum de hardcore de todos os tempos.
Quanto aos outros discos da lista, talvez eu até os mude de posição novamente,
mas provavelmente não este. O EP foi lançado em 1992
pela Slap A Ham, o selo de Chris Dodge, que se faz presente mais uma vez nesta
lista, depois do já excelente COMMON SENSELESS de 89, e foi um marco para a
música extrema (talvez não tanto como o CROSSED OUT e INFEST, mas deveria). É
incrível que até então ninguém havia dado muita importância para o NO COMMENT.
Se
o primeiro álbum foi uma evolução do primeiro EP do DRI, o DOWNSIDED foi a
evolução da evolução de algo que já era sensacional. A formação se mantém a de
sempre, porém com Brent na guitarra e Vince no baixo, seguindo com Andy nos
vocais e Raul na bateria. Se você espera mensagens positivas ou para salvar o
mundo, esqueça, aqui é a vida real, onde só há lugar para a desesperança,
raiva, e desilusão com o ser humano e a sociedade, somado a uma forte dose de
depressão e pessimismo. Nos registros anteriores até se viam letras sobre
política e direitos animais, mas neste parece que Brent realmente estava
passando por uma forte depressão.
São 11 músicas em 7 minutos e, meus amigos, o
NO COMMENT barbarizou neste álbum, que é tocado com extrema velocidade e uma
precisão cirúrgica, sem se tornar repetitivo, com vocais desesperados e uma
ótima gravação, resultando em uma das mais intensas e brutais experiências
sonoras que podemos experimentar. Podemos encontrar letras falando sobre suicídio
(Past Tense), depressão (Sarcastics, Push Down & Turn), raiva (Downsided,
Soiled By Hate), ou como olhamos com desânimo o tempo que passou, depois que
estamos velhos (Dead Stare For Life), indiferença (Distant) e que os problemas
sempre irão persistir, não importando o que se faça (Hurt). Difícil definir os
melhores momentos do álbum, já que o mesmo é perfeito do início ao fim, mas
talvez o maior clássico seja a “Hacked To Chunks”, que recebeu versões de
várias bandas, entre elas Hummingbird Of Death e xBrainiax.
A arte feita por
Brent mostra imagens relacionadas à depressão, remédios, pulsos cortados,
crianças nascendo e cemitérios. Reforçando esta ideia suicida do EP, o 7”
original tinha as inscrições: “HAPPINESS IS PAIN, HATE RULES” no lado A e “DO DILAUDID SLIT YOUR WRIST” no lado B. Dilaudid trata-se de um forte analgésico a base de ópio. Mas é incrível como toda esta
ode ao suicídio e a depressão pode ter se tornado um antídoto para isto, já que
a sonoridade do disco nos faz querer ouvi-lo mais e mais, e assim continuar
vivendo. Quanto aos vocais de Andy, o considero como o melhor nesta função
dentro do power violence, e felizmente mostrou mais do seu poderio durante a
passagem pelo LOW THREAT PROFILE. A Deep Six relançou recentemente este EP e o COMMON
SENSELESS a preços acessíveis. Uma boa chance para quem quer ter
estes álbuns em vinil. Nota 10. Essencial. Sem mais.
Duração: 07:00
Tracklist: Dead Stare For
Life // Past Tense // Sarcastics // Distant // Hurt // Hacked To Chunks // Lament
// Soiled By Hate // Downsided // Push Down And Turn // Curtains
Discogs
ALGUMAS MENÇÕES
HONROSAS
Despise You & Stapled Shut Split 7" EP [Pessimiser, 1997]
Excelente split do DESPISE
YOU, banda que tocava muito bem, com peso esmagador e com ótimos vocalistas que
não podia ficar de fora desta lista. A banda tinha na época Alex e José Morales
nos vocais e guitarras, Frank na bateria e Letícia no baixo e vocal, que talvez
fora a primeira mulher a cantar em uma banda de power violence. Na verdade,
estes eram os nomes falsos que eles assinavam nos álbuns.
Os riffs e o peso
denotavam uma maior influência do metal no som do DESPISE YOU, que aliado à
rápidos blast beats e momentos sludges tem um resultado excelente e devastador.
Bandas como HATRED SURGE e IN DISGUST foram fortemente influenciadas pelo DESPISE
YOU. Este é o registro que conta com a clássica “No More... Feelings”. Destaques também para “Passive Position”, “I End Me”, “Lost
And Losing”, enfim, todas são excelentes músicas. Do outro lado vem o STAPLED SHUT, uma boa
banda que até lembra o DESPISE YOU, devido a possuir um vocalista em comum. Eles
devem ser mais lembrados pelos splits que lançaram, este e outro com o LACK OF
INTEREST. O EP foi lançado pelo selo Pessimiser, vocalista do DESPISE YOU.
Duração: 10:15
Tracklist: Despise You: Passive Position // I End Me // Portrait // Lost And Losing // No More... Feelings // Euphoric Confusion // Been Lead // Stapled Shut: Resin Heaven // No Score
Discogs
Capitalist Casualties & Man Is The Bastard 12" LP [1994]
Este LP reuniu duas
bandas históricas para o gênero e ambas com uma longa discografia, mas não tão
regular, com alguns álbuns não tão bons, principalmente o MAN IS THE BASTARD em
sua fase mais noise, embora seja inegável a sua importância e contribuição para
o power violence. Mas neste split as duas bandas estão em boa fase, embora eu
goste mais das 13 músicas rápidas e curtas do CAPITALIST CASUALTIES, que não
poderiam deixar de serem mencionados nesta lista. O lado do MAN IS THE BASTARD dá
uma esfriada, com músicas mais longas e cadenciadas, no estilo próprio da
banda, mas são 5 boas músicas, numa das melhores fases deles.
Duração: 21:03
Tracklist: Capitalist Casualties: Meat Market // Jesus' Whore // Murder Media // Moron // Self-Abuse // Worker // Fuck The Christians // Pin Cushion // You Explode // Nome Dropper // Vomit // Stairs // Waste Life // Man Is The Bastard: Foot Binding // Eunuch Pt. 2 // Gourmet Pez // Blinds
Discogs
Fiquem à vontade pra sugerir as suas listas, ou criticar a minha.